26.3.16

Lisboa - "Vela Latina"


A olhar o rio

Como sucede em todas as capitais, há em Lisboa um escasso grupo de restaurantes que eu arriscaria designar por “oficiosos”. São locais onde os empresários ou os políticos se encontram, às vezes uns com os outros, onde se fazem negócios e se afinam entendimentos. Alguns desses espaços atraem, pela sua fama, alguma clientela turística, outros preservam, nas suas frequentes “boiseries”, uma existência mais discreta, apoiados numa “fauna” oriunda de escritórios de advogados e de figuras das empresas. Porque esses setores profissionais são naturalmente dados a almoços “leves”, a condição de haver uma boa oferta de peixe é essencial, o que, em alguns casos, não é incompatível com uma oferta culinária mais criativa e “pesada”.

O menos “típico” desses restaurantes é talvez o “Vela Latina”, que existe desde 1988. Porquê? Desde logo porque, num país onde muitos restaurantes tradicionais vivem de luz artificial, ali há luminosidade natural, vidraças e esplanada sobre a zona do Tejo e da Torre de Belém, num ambiente de decoração que nos traz o mar. Depois, porque a amplitude do espaço permite ter conversas discretas, que podem ser iniciadas na zona de espera do bar e, se necessário, prosseguir numa excelente sala privada.

O “Vela Latina” parece imune ao tempo. Sem ser moderno, mantendo mesmo um mobiliário algo datado, o seu espaço projeta uma leveza agradável. É-se por lá servido com uma delicadeza profissional saudavelmente antiga, discreta, atenta, aconselhadora, sem subserviência nem o “casual arrogant” de outros locais. E, coisa rara nos tempos que correm, há lugar para estacionar o carro, uma verdadeira bênção em Lisboa.

Passei por lá há escassos dias, para um almoço. As ofertas sobre a mesa não eram muito criativas: queijo fresco e salmão, com pequenas torradas. Mas o essencial estava para vir.

A lista é muito equilibrada, com peixes e mariscos em destaque: filetes de pescada, lombo de peixe galo com endívias, rolinhos de linguado com gambas, peixe fresco do dia – robalo, pregado, dourada, linguado, cherne, dourada. Hipóteses eram ainda os “clássicos” sopa ou salada de lavagante, o arroz de coentros com lagosta ou a cataplana rica do mar. Antes, claro, poder-se-ia ter escolhido um creme de santola, raviolis de lagostins ou umas ameijoas à Bulhão Pato. Nos pratos do dia, ainda nos peixes, havia lombinhos de pescada com alcachofras.

Comemos duas sopas: creme de courgettes com coentros e um creme de espargos verdes, ambas bem. Depois, seguimos para um bacalhau com migas de pão de milho,  os rolinhos de linguado e uma empada de caça com castanhas e salada verde. Tudo estava a preceito, embora sem deslumbre, com o bacalhau com parcimónia sábia no sal e a empada muito saborosa, se bem que a salada verde que acompanhava a empada pudesse ser mais viçosa. Nas carnes, ainda havia uns medalhões de porco grelhados, um “carré” de borrego e “entrecôte” e lombo de Black Angus. A apresentação dos pratos é “conservadora”, tradicional.

A oferta de sobremesas era muito tentadora, com uma pastelaria da casa de que se provou um ótimo pastel de nata, uma mousse de chocolate belga no ponto certo de textura e um “cheese cake” de qualidade. Mas muito mais havia por lá.

Uma boa, equilibrada e informativa lista de vinhos, a preços razoáveis, ajudou bastante a refeição.

Gosto muito do caráter clássico do “Vela Latina”. Não há por ali surpresas, há constância e um profissionalismo sólido.

“Vela Latina”
Doca do Bom Sucesso
Lisboa
Tel. 213017118/910174024
Zona de fumadores
Encerra aos domingos
GPS: 38°41’34.48”N 9°12’47.27”W
Preço médio: 35 euros

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